Relação Pandemia e Dor

“Por que minha dor piorou?” “Não fiz nada para estar pior!” “Será que é o estresse?”

Esses são alguns questionamentos que pacientes com dor crônica tem feito durante o período de isolamento. Mas antes de tentar responder a essas questões, precisamos entender um pouco sobre os mecanismos de dor. Já entendemos que a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, tendo lesão ou não, e ela é classificada como crônica quando tem uma duração de três meses ou mais. Outra classificação importante é referente aos mecanismos: chamamos de dor de origem nociceptiva quando a dor resulta de algum trauma de tecido somático ou visceral, ou quando se origina de algum processo inflamatório; dor neuropática quando há lesão ou trauma no sistema nervoso; dor nociplástica quando há alterações na forma de como o sistema lida com as informações de dor, e é nessa classificação que a dor crônica pode se encaixar.

Várias áreas cerebrais ligadas ao movimento, sensações, memórias e emoções se ativam para dor aparecer quando é necessário, e ela só aparece para nos alertar de que há algo errado, mesmo não tendo lesão, mas com o objetivo de nos proteger de experiências desagradáveis através de memórias, como por exemplo, em algum movimento feito que nos causou dor, a memória de algum acidente ou antes de ter outra reunião estressante.

Com o isolamento social, houve um aumento da inatividade e do estresse relacionados à tal situação. Este sinal é um alerta máximo do corpo para problemas psicológicos enfrentados nesse momento. É preciso observação e questionamento.

A pandemia se tornou um acelerador de futuros. Aquilo que por vezes não dávamos a importancia devida, pois estávamos envolvidos em confraternizações sem tréguas nos fins de semana, reuniões seguidas no trabalho e obrigações que nunca terminavam, chegaram ao fim. Já não é mais possível ficar vendado. O mundo desacelerou e nos convoca à encarar tudo aquilo que não queríamos enxergar ou nos preocupar. Diante disto, a somatização pode aparecer com mais um alerta para aqueles vivem na sombra.

O termo somatização na psiquiatria foi introduzido por Wilhelm Stekel, ex-colaborador de Freud, em 1924. Essa expressão foi criada através do erro de traduação de uma palavra alemã que significava discurso do órgão. Em 1938, o também médico, James Lorimer Halliday, surgeriu a um jornal britânico o termo “doeça psicossomática” para desginar a maneira como os sofrimentos, de ordem psicológica – surgidas no sistema nervoso autônomo ou endócrino – poderiam provocar diversas disfunções no corpo humano. Atualmente, os principais manuais classificatórios DSM e CID nomeiam como somatização um fenômeno generalizado, que inclue um grande número de condições.

Por consequência da ampliação do termo, surge também a dificuldade de diagnosticá-lo na conteporaneidade, até mesmo porque, a industria farmaceutica se empenha em fabricar constantemente um novo medicamento para dar conta de qualquer dor do nosso corpo. Há de se convir que, da mesma forma que não se trata (ou não se deveria tratar) aquilo que não tem sintoma, viramos reféns daquilo que não sentimos.

Portanto, as diversas clínicas médicas podem estar até mais despreparadas para reconhecer as nuances da somatização por conta do mundo em que vivemos. Uma saída possível é a integração das equipes de saúde e enxergar o paciente na sua totalidade, não só com uma perna ou um braço que merece ser curado. Os saberes, quando falamos de somatização, são complementares.

 

Texto escrito por Michele Galeno Fisioterapeuta CREFITO 226002-F

Marcelle Rodrigues Psicóloga  CRP 05/46056


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Graduada em Fisioterapia pelo Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação, realizou MBA em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Fisioterapia Esportiva. Ainda possui especialização na área de Dor Orofacial e Disfunção Temporomandibular. Cursa o 1º ano da formação de Osteopatia pelo Instituto Docusse de Osteopatia e Terapia Manual (IDOT). É instrutora de Pilates por amor à terapia através do movimento. Rio de Janeiro - RJ


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